3 de nov. de 2016

Palma Forrageira (Opuntia Fícus- Indica Mill) como alternativa na alimentação de ruminantes

Cristina Cavalcante Félix da Silva1 e Luciana Carvalho Santos2
1Mestre em Zootecnia, UESB – Itapetinga, BA. cristina.zte@pop.com.br
2Mestranda em Zootecnia, UESB – Itapetinga, BA. llcarvalhos@yahoo.com.br
Fonte: Revista Electrónica de Veterinaria REDVET ISSN 1695-7504 http://www.veterinaria.org/revistas/redvet
Resumo
A exploração pecuária na região Nordeste é prejudicada pelas constantes secas e irregularidade das chuvas, causando assim, uma baixa produtividade de seu rebanho. Considerando essa má distribuição de chuvas, é necessária a busca de alimentos alternativos e mais baratos, como a palma forrageira. A palma forrageira sem espinho não é nativa do Brasil. No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos distintos de palma: gigante, redonda e miúda. Essa forrageira apresenta alta produção de matéria seca por unidades de área, é uma excelente fonte de energia, rica em carboidratos não fibrosos e nutrientes digestíveis totais. Porém, a palma apresenta baixo teor de fibra em detergente neutro, necessitando sua associação a uma fonte de fibra que apresente alta efetividade. Assim, torna-se possível a associação da palma com alimentos de baixo custo, permitindo produção de leite e manutenção em níveis bastante próximos aos obtidos com alimentos de maior valor comercial. Com isso, esta revisão tem por objetivo demonstrar a eficiência da utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes.
Introdução
Devido à influência da irregularidade de distribuição das chuvas sobre a alimentação de ruminantes nas regiões semi-áridas é necessário buscar alternativas para a alimentação do rebanho. Segundo o IBGE (2001) a região nordeste do Brasil apresenta um rebanho bovino de 21.875.110 cabeças, 7.336.985 ovinos e 8.032.529 caprinos, representando, respectivamente, 13,2%, 51% e 93% do rebanho brasileiro.
A maioria dessa população tem como base alimentar a utilização de pastagens nativas ou cultivadas, no entanto, com a estacionalidade de produção das forrageiras é necessária a busca de alimentos alternativos. Na época das chuvas a disponibilidade de forragens é quantitativamente e qualitativamente satisfatória, todavia nas épocas críticas do ano, além da escassez de forragens o valor nutritivo se apresenta em níveis bastante baixos o que acarreta queda de produtividade e compromete a produção de leite e carne (Lima et al., 2004). Tradicionalmente, utiliza-se como concentrado energético o fubá de milho, numa relação de sete partes de milho e uma de uréia, substituindo a mesma quantidade de farelo de soja. Mas a utilização de fubá de milho como fonte energética, também pode comprometer custos de produção, por não ser produzido em larga escala no Semi-Árido Pernambucano. Assim, uma alternativa seria a utilização de uma fonte energética de menor custo e disponível na região (Melo et al., 2003). Neste caso, poderia ter como alternativa para as regiões semi-áridas do Brasil a utilização da palma forrageira. A palma forrageira sem espinho não é nativa do Brasil, foi introduzida por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes importadas do Texas-

Estados Unidos. No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos distintos de palma: a) gigante - da espécie Opuntia fícus indica; b) redonda – (Opuntia sp); e miúda - (Nopalea cochenilifera). A palma forrageira, em regiões do semi-árido, é a base da alimentação dos ruminantes, pois é uma cultura adaptada às condições edafoclimáticas e além de apresentar altas produções de matéria seca por unidades de área. É uma excelente fonte de energia, rica em carboidratos não fibrosos, 61,79% (Wanderley et al., 2002) e nutrientes digestíveis totais, 62% (Melo et al., 2003). Porém a palma apresenta baixos teores de fibra em detergente neutro, em torno de 26% (FDN), necessitando sua associação a uma fonte de fibra que apresente alta efetividade (Mattos et al., 2000). Com isso, esta revisão tem por objetivo demonstrar a eficiência da utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes.

Revisão de Literatura
1. A palma forrageira A palma forrageira pertence à Divisão: Embryophyta, Sub-divisão: Angiospermea, Classe: Dicotyledoneae, Sub-classe: Archiclamideae, Ordem: Opuntiales e família das cactáceas. Nessa família, existem 178 gêneros com cerca de 2.000 espécies
conhecidas. Todavia nos gêneros Opuntia e Nopalea, estão presentes às espécies de palma mais utilizadas como forrageiras. Existem três espécies de palma encontradas no Nordeste do Brasil, a palma gigante, palma redonda e palma miúda. a) Palma gigante- chamada também de graúda, azeda ou santa. Pertence à espécie Opuntia fícus indica; são plantas de porte bem desenvolvido e caule menos ramificado, o que lhes transmite um aspecto mais ereto e crescimento vertical pouco frondoso. Sua raquete pesa cerca de 1 kg, apresentando até 50 cm de comprimento, forma oval-elíptica ou sub-ovalada, coloração verde-fosco. As flores são hermafroditas, de tamanho médio, coloração amarelobrilhante e cuja corola fica aberta na antese. O fruto é uma baga ovóide, grande, de cor amarela, passando à roxa quando madura. Essa palma é considerada a mais produtiva e mais resistente às regiões secas, no entanto é menos palatável e de menor valor nutricional. b) Palma redonda (Opuntia sp.)- é originada da palma gigante, são plantas de porte médio e caule muito ramificado lateralmente, prejudicando assim o crescimento vertical. Sua

raquete pesa cerca de 1,8 kg, possuindo quase 40 cm de comprimento, de forma arredondada e ovóide. Apresenta grandes rendimentos de um material mais tenro e palatável que a palma gigante. c) Palma doce ou miúda- da espécie Nopalea cochenilifera, são plantas de porte pequeno e caule bastante ramificado. Sua raquete pesa cerca de 350 g, possuem quase 25 cm de comprimento, forma acentuadamente obovada (ápice mais largo que a base) e coloração verde intenso brilhante. As flores são vermelhas e sua corola permanece meio fechada durante o ciclo. O fruto é uma baga de coloração roxa. Comparando com as duas anteriores esta é a mais nutritiva e apreciada pelo gado (palatável), porém apresenta uma menor resistência à seca. Nos três tipos, as raquetes são cobertas por uma cutícula que controla a evaporação, permitindo o armazenamento de água (90-93% de água). As três espécies mencionadas não possuem espinhos (são inermes) e foram obtidas pelo geneticista Burbanks, a partir de espécies com espinhos. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes vindas do Texas, nos Estados Unidos, onde demonstraram grande utilidade. Não toleram umidade excessiva e em solos profundos apresentam extraordinária capacidade de


extração de água do solo, a ponto de possuir cerca de 90-93% de umidade, o que torna importantíssima para a região do polígono das secas. (Pupo, 1979). Atualmente, estima-se que, pela ocorrência de severas estiagens nos últimos anos, área superior a 400.000 ha esteja sendo utilizada com o cultivo das palmas forrageiras, constituindo-se em uma das principais fontes de alimento para o gado leiteiro na época seca do ano (Mattos et al., 2000). A palma apresenta-se como uma alternativa para as regiões áridas e semi-áridas do nordeste brasileiro, visto que é uma cultura que apresenta aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e perda de água, sendo bem adaptada às condições adversas do semi-árido, suportando prolongados períodos de estiagem. A presença da palma da dieta dos ruminantes nesse período de seca ajuda aos animais a suprir grande parte da água necessária do corpo. Segundo Silva et al. (1997) um fator importante da palma, é que diferentemente de outras forragens, apresenta alta taxa de digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada extensa e rapidamente, favorecendo maior taxa de passagem e,
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consequentemente, consumo semelhante ao dos concentrados. A palma frequentemente representa a maior parte do alimento fornecido aos animais durante o período de estiagem nas regiões dos semi-árido nordestino, o que é justificado pelas seguintes qualidades: a) bastante rica em água, mucilagem e resíduo mineral; b) apresentam alto coeficiente de digestibilidade da matéria seca e c) tem alta produtividade. Como qualquer outra planta, a palma necessita de

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