7 de jul. de 2013

Estimada Presidente Dilma



Vi, pela televisão, as reuniões de Vossa Mercê com os governadores nordestinos, desde a de Aracaju a de Fortaleza há poucos dias. Achei-as da maior importância, quase ótimas.

Tereza Maria, minha irmã muito querida e já aposentada, que tratava consigo quando dirigia a banda técnica de Empresas de energia elétrica na Bahia e no Rio Grande do Norte, comentava, com agrado, sua maneira de agir contra os mal- feitos e/ou omissões que encontrava em cada canto desses, como Ministra de Minas, e previu que sua atuação na Presidência do Brasil seria no mesmo estilo, forma e firmeza.

Entendi perfeitamente o que me dizia ela e me encantou como a senhora falou e decidiu sobre as ações de Governo para o Nordeste.

Quando chegava a vez das terras com secas, a alegria de ouvi-la até então, esmaecia-se e vi que não era uma culpa pessoal (nenhum Chefe de Estado pode ser especialista em todos os assuntos e tem que lidar com eles) e sim, pela pobreza da assessoria disponível, via Banco do Nordeste (BNB), que nos 60 anos de criado, no útero de uma Seca, como “Agência de Desenvolvimento do Nordeste”, nunca foi capaz de formular um sistema de financiamentos rurais que incorporasse a racionalidade e as idiossincrasias das secas recorrentes desse meu mundo.

Quando da extinção dos Bancos Públicos Regionais - Sul, Sudeste e Centroeste - o BNB escapuliu da lista mediante artifícios espúrios, eu diria, até amorais, engodando o então Ministro da Fazenda Pedro Malan, pelo cearense que presidia o Banco, seguramente um não abençoado pelo Santo Padre Cícero. Todo conterrâneo mais esclarecido encarou uma úlcerante indignação, como ficou bem claro, na reunião chamada “Grito da Seca”, com a presença de vários Ministros, todas as Federações de Agricultura do Brasil, a bancada parlamentar regional e milhares de produtores vitimados, realizada em Lages- RN, na Grande Seca de 1998.
Essa reunião foi aberta pelo meu primo-irmão Ariano Suassuna, seguida de uma palestra positiva sobre o semiárido feita por mim, uma outra mostrando o nível da inadimplência semeada pelo BNB e uma terceira, propondo um modelo decente de aplicação de FNE. O Nordeste seco, historicamente, era a região de menor taxa de inadimplência no Banco do Brasil.

A Constituição de 1988 criou os Fundos Regionais de Desenvolvimento. A pedido dos então Governadores Miguel Arraes (PE) e Geraldo Melo (RN), participei da elaboração de um Estatuto de Crédito Rural para o FNE que deveria submeter à Sudene cada Plano anual de aplicação, Sudene de onde saíra em 1° de abril de 1964. Os respectivos mandatos estavam no final e o BNB engavetou a proposta feita e malbarata o FNE até hoje.

Àquela época a Sudene, que havia conceituado a 1° abordagem mais ampla da zona seca, além da simplória e intelectualmente cômoda leitura hidraulicista da semiaridez, foi tratada como um foco de comunistas encravado no Recife- tempo em que comunista comia criancinhas - e o seu Departamento de Recursos Humanos, em formação apropriada, foi fechado e eu, também, fui saído de lá.

Logo adiante, por morte súbita do Pai, abandonei, inclusive, a Universidade onde amava ensinar Engenharia Civil e assumi, pelo consenso dos irmãos, a Fazenda herdada nessa região muito seca do Cariri Velho da Paraíba, nunca pesquisada pelas Instituições de Governo e de Ensino, locadas no Litoral chuvoso, que tem sua tecnologia bem definida universalmente.

Sou a 8° geração familiar nessa Fazenda e cuido dela com empenho integral e exclusiva dedicação, há quase meio século.

Abandonei as lotéricas lavouras temporárias da Agronomia oficial, que conflitam com a distribuição das chuvas daqui e fui buscar na Ásia x Norte da África os elementos biológicos (plantas e animais) de seus pré-desertos, compatíveis com a desarrumação de nossa pouca água natural. Produzir grãos numa Zona Seca, é , pelo menos, uma impropriedade.

Incorporamos aos campos dos capins perenes importados, as ovelhas deslanadas de carne enxuta e pele superior, nativas do NE, bem como as desprezadas e altivas cabras nativas, de leite rico e prolificidade acentuada. Ariano foi o ideólogo e eu o “zootecnista” desse processo e passamos a fabricar queijos diferenciados, seja pela raça das cabras, pelas ervas próprias da terra e pela maturação que o clima e as essências vegetais, igualmente nativas, como tempero dos queijos propiciam.

Essa iniciativa nossa, penosamente construída, por falta de bibliografia e informação apropriada, à custa de tentar errando e acertando, está na base da valorização que a Caprinocultura brasileira adquiriu (o NE seco abriga 96% do rebanho nacional) e da gratificação por ter feito, servindo aos produtores do semiárido real, conta e satisfação que eu e Ariano dividimos.

Uma seca braba
nivela por baixo: tanto faz os chamados pequenos produtores, como os “médios” e os “grandes”. A vulnerabilidade é uma só: as lavouras anuais fenecem, ou, como em 2012, nem sequer são semeadas. A semi-estéril, porém socialmente justa Bolsa Família, mantém as pessoas em equilíbrio termodinâmico com a Natureza e não morrem mais por fome, como antes.

Restam os bichos, produção típica das terras secas, desde a manjedoura de Belém, no sertão de Nazaré, para quem a pseudociência oficial só fala em alimentar com proteínas, enquanto o gargalo de uma seca é a energia, o volumoso da ração, tipo bagaço hidrolisado de cana de açúcar, silagens ou fenos. O milho é comida típica de monogástricos como nós, as galinhas e os porcos. Ele ajuda na salvação dos rebanhos, mas é muito pouco e não resolve.

Novamente, me queixo da assessoria de urbanoides que olham para o semiárido de costas e só pensam na Seca quando ela já se instalou desde o 2° semestre anterior ao ano seco seguinte.

Por pressão de familiares residentes em Brasília, seus admiradores, que suprindo minha lamentação da assessoria equivocada do BNB à Vossa disposição construtiva, fui escrever esse texto com a pretensão de ser curto e sintético e que vai terminando do tamanho de duas folhas.

Peço a Vossa Mercê que releve minha impertinência sertaneja e desculpe o tamanho do texto.

Receba a congratulação mais sincera da esperança desse seu patrício, que lhe admira e torce pelo sucesso do seu Governo.

Manuel Dantas Vilar Filho.

Em 15 de Abril de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensamento do mês